quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Apelidando a vida!!

Podem até estranhar os mais novos. Mas a galera que estudou nas 
antigas, bem que vai concordar: Bom era na época em que se botava
apelidos na escola. Sério. Depois que inventaram esse tal de bullying
perdeu-se 80% da magia que existia nos recreios e salas de aulas do
Brasil inteiro. Pior. Exclusivamente do Nordeste. 
Meu povo. O nordestino é moleque de nascença. Adora canalhice. 
É apreciador da anarquia pura e saudável. Da macaquice em geral. 
Da arte tosca.

Desde pequeno eu via meu pai, o maior botador de apelido que já conheci
na minha vida, tirando onda com os amigos deles onde quer que fosse. 
No bar, no campo de futebol, até no trabalho... E pense. Oh, filho duma égua 
pra colocar apelido é o meu pai. E quando ele tomava duas doses de Colonial 
nas esquinas, era aí que a sua metralhadora em forma de língua ficava
mais afiada KKK... Bodequeiros, motoristas de ônibus, atletas, moleques
de rua ou churrasqueiros (espetinho de gato)... ninguém escapava dos
apelidos do Sr. Manel.
Mas não pense que tudo era flores não... O mesmo também ficou
conhecido no famigerado Parque Manibura como “Manel Cobra Choca”
e “Manel Mucureba”.  Muito bom, né?

Logo nós que somos um povo criado na base da gaiatice.
Que temos como ícone maior da presepada o finado Chico Anísio. 
Depois Renato Aragão, depois Tom Cavalcante, depois Tiririca, depois
 meio mundo de humoristas na ativa. 
Alguns ruins, outros muito bons, outros geniais, não importa...
O cearense nato cativa no sangue o dom de fazer putaria, seja da forma 
que for. Contando piada, peidando na boca, vaiando o sol ou botando 
apelidos no semelhante. Sinceramente, o cabra (ou a cabrita) que não
gosta de apelidos é recalcado ou azedo de nascença.

Colocar apelido é muito bom, meu povo! Porém, desde que não seja de 
baixo calão ou muito, muito, muito preconceituoso. Deixo claro aqui! Apelido
é pra ser algo poético, fantasioso, mágico e artístico. Artístico no sentido 
"história em quadrinhos".  Apelido acima de tudo é uma sacada que vem
da alma. Apelido é a mais elegante das toscas homenagens que se pode 
dar a um ser humano.

Atire a primeira pedra aquele que nunca riu na escola quando
um monte de pivete ficava insultando uns aos outros com apelidos.
Nada de vingança fria. Você tinha que revidar naquele mesmo instante. 
Enquanto a coisa ainda tava quente...  .

— E tu, Filho da Maria três peitos?!
— Vai Loiro bode!
 — E tu, Alma de gato, Casca de borboleta, Esqueleto da Amazônia, 
Boca de gaveta, Peido azedo...  Até as professoras riam.

E Guabiras, por exemplo, veio de Guabiru! Apelido que ganhei dentro
dos padrões “Grupo Escolar Ismael Por Deus”. 
E por sinal, foi uma professora que colocou! Lembro muito bem.
Dia de reunião dos pais. Porém,era obrigatório o aluno ir junto.
Então, aquele pátio lotado de gente. Pai, aluno, pai, aluno, pai, aluno...
e daí, uma professora, depois de muito se lamentar por conta do
nível de periculosidade pelo qual a escola passava, aponta pra mim e fala:

— Esse menino aqui, não aguento mais... Como a sala de aula tem 
duas portas (uma na frente, outra atrás), ele aproveita que estou distraída
escrevendo na lousa e daí  escapole pela porta traseira numa velocidade
incrível que mais parece um GUABIRU
— Quando olho pra trás só vejo o rabo!

Tome Manguaça! Gargalhadas pra mais de metro e até hoje o tal bullying
aplicado por uma profissional do ensino hoje é referência no mundo do cartum.

E lá mesmo no Parque Manibura, onde nasci e me criei, sempre foi totalmente
simples colocar apelido um no outro. Acredite, alguns felizardos ainda convivem 
com o apelido como se fosse uma segunda identidade. Henrique Pesão, Jaburú,
Bagageira, Zé Caboré, Tiago Pimbão, Rafael Filho da Raposa ou Gago Timbira.
Basta chegar na padaria do bairro e perguntar onde mora qualquer um
deles que todo mundo sabe quem é.

Nunca a gente quis ofender ou aloprar ninguém. E na maioria das vezes 
se existia algum mal, ele existia apenas na cabeça dos adultos. Ah, os adultos.
Esses sim, os fabulosos donos da verdade e que, de vez em quando, adoram
avacalhar o mundo. 

Sabe qual era a coisa que eu mais desejava ao ver meu pai colocando
apelido nos outros? 
Que ele jamais virasse adulto!

Tudo porque, pra mim, ele é o moleque mais velho que já conheci nessa vida.
Espontâneo, desengonçado, traquino e muito, muito inteligente na hora 
de colocar apelidos. 

Nota do autor: Meu pai ainda está vivo, sim!!! Sempre quando posso levo 
ele pra praia pra desopilar e relembrar histórias

1 comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkk perece que teu pai é irmão do meu, os mesmos presepe até hoje

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