quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Mercado São Sebastião!


Se existe um dos pontos mais fulminantes que posso citar 
como contribuição para que eu começasse a ter orgulho de ser nordestino, 
sem sombra de dúvidas, esse ponto se chama Mercado São Sebastião.

Há tantos outros mercados na cidade, é verdade. Cada um com suas
tradições e histórias fantásticas. Mas convenhamos, quando vi pela 
primeira vez aquele imenso gigante colossal, aquela arena medieval 
arrodeada de pombos e magia por todos os lados, caramba! Até hoje
faço de tudo para visitá-lo quando me aparece qualquer oportunidade
de ir praqueles lados da Av. Bezerra de Menezes. 

Verdadeiro antro de quinquilharias sertanejas lado a lado com toda
qualidade possível de preciosidades da nossa rica culinária. 
Pra quê melhor? A nata. O Made in Ceará. A prova de nós mesmos. 
Falar do Mercado São Sebastião é começar a se encher de pernas.
É pegar piadas e lamúrias no ar. É testemunhar a pura essência de ser 
sertanejo e mais alguma coisa. Labirintos de crenças, disputas de cheiros,
flagrantes de marmotas e de crônicas incríveis. Repentistas e sanfoneiros.

Vadias e açougueiros. Garçons e cobaias. Devotos e esfomeados. 
Morcegos e tantas outras criaturas imprestáveis. Filhos abençoados 
e suores recompensados. Figuras carimbadas pela rotina do vai e vem. 
Cuja euforia se iguala com a necessidade de vender a carne para comer o pão.
A acerola exagerada e o abacate monstruoso que vira vitamina para aliviar
a tensão das gargantas que acabaram de soltar versos seguidos de aplausos. 

O suco acidental de vários abacaxis que escorre pelo piso e transforma tudo
em um lindo espelho de referências para sorrisos que instigam a alma. 
A bisteca brilhosa, o torresmo crocante, o fígado assado na brasa, o cuscuz 
temperado direto no fogo. O arroz empapado e branquinho que eu salgo com 
o caldo da fantástica cabidela. A macaúba, o coco babão, o miúdo murici, 
o tamarindo e o cacho de pitomba. Eternas coisinhas que azedam o juízo
e trazem lembranças de uma infância espritada. As verduras maravilhosas, 
as especiarias, a infinidade de pimentas e as ariadas panelas que refletem 
luzes para aquecer um ambiente onde peias, gorduras, tripas, nervos, ossos
e dentes são triturados pela fúria sonora do cutelo.

Ovos coloridos, galinhas caipiras, canhões e criações dos muitos terreiros
abençoados. A manteiga em forma de areia molhada. Engarrafada e mística
que nem a calda caramelada dos doces que desafiam os pecados e amansa
os corações. O sangue vivo que tinge azulejos e saliva imaginações. 
O boi. O porco. O pato. Enfim. O fervilhar de coisas que pesam no ar e se
espalham desde meados de 1990. Época que conheci bestamente o São Sebastião. 
Por acaso. Inocente. Acuado. Voltando de mais um baile funk no Grêmio dos
Ferroviários. E a partir daí, virou obrigação na minha vida ressuscitar as energias 
mundanas num bom prato de tutano. Seja lá. Seja na Messejana. Seja no
terminal rodoviário de qualquer sentido soberano. 

Porém, foi no São Sebastião que aprendi que o tomate de lá cheira melhor 
que o do Pão de açúcar. Que o limão tem mil e uma utilidades.
Aprendi que o alho serve pra quase tudo no mundo. Que a rapadura pertence
a uma família enorme. Com primos e cunhados de todos os tipos. 

Aprendi que somos muito mais ricos do que muitas outras coisas neste país. 
Culturalmente. Por natureza. Pela Humildade e um pouco mais. 

E, acima de tudo, aprendi a ser eu.



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