Adolescência.
A única e exclusiva vez em todo o ciclo
da existência humana
em que milhares de coisas explodem com um único intuito.
Pelas
conexões cerebrais. Os nervos. Os instintos e a pobre alma.
Extravagante e
desengonçada fase da vida. Pra definir. Moldar.
Concretizar. Desse momento adiante.
No que seremos para sempre?
Quando o corpo dá o play e o rumo se inicia.
Mas pra
onde?
Linha entre o delicado e o assustador?
Fronteira entre o desejo e a fúria?
Recanto de sonhos e de liberdade?
Ser adolescente é criar asas, é ter
escamas, é adquirir couraça,
é adotar rabo com seta (ou sem seta), é inflar-se
de espinhos
nas costas e ferrões na cabeça.
Ser adolescente é se colorir de penas
por cima de uma pele de morcego.
É ser tiranossauro com búfalo; com
macaco prego; com escorpião;
com tubarão branco; com camaleão e com
peixe-espada.
É abusar do veneno sem controle.
Tóxico.
Espumoso. Corrosivo e genioso.
É cuspir. Destroçar. Desperdiçar o
domínio sobre o fator de cura
que nem o próprio indivíduo conhece.
É tentar manipular uma visão noturna
quando nem mesmo
o juízo completou direito a sua biologia no corpo.
É adoecer com as coisas mais bestas
do mundo, mesmo
tendo um estômago de ferro e as tripas de aço.
É ter simples
vontade de não fazer nada. Todo dia, toda hora.
Quando der na
telha.
É dá graças a Deus existir controle remoto só pra não
se despregar do
sofá. E chuva de madrugada só para
poder perder aula de manhã.
— Viva a natureza. \O/
— Vamos aceitar a preguiça mesmo quando
se tem
uma disposição de fazer inveja a crocodilos e leões africanos.
Vamos jantar pastel invés de arroz
com feijão. Vamos comer manga
dois minutos antes de servirem o almoço. E ter
uma incrível amizade
com refrigerante desde as primeiras horas do dia.
Vamos
inventar de comer macarrão com couro e caldo de galinha dentro
do pão ou fazer
barulho com o restinho do Nescau por pura pirraça!
Ser adolescente é conhecer pela primeira vez Nirvana, Bob
Marley
e Bezerra da Silva. É achar os caras formidáveis em tudo.
Que nem Fat
Boys, Ramones, Kelly Slater e Leonardo Messi.
Ou melhor. Que nem assistir Pulp
Fiction ou Game of Thrones
pela primeira vez.
É correr, nadar, suar, suar de novo e
descobrir (iga!) cheiros
que você jurava nunca existir. Sim. Também cheiramos.
Mas importante ainda é entender o valor de cada tipo de aroma e
tentar conviver
com eles (ou não!). Seja no ambiente, na rua,
nos
coletivos, nas festas, na sala de sua casa ou nas gatinhas...
Ah, gatinhas.
Ser adolescente é atravessar tempestades
de areia por elas.
É enfrentar o fogo. Não dá a mínima para
o frio. Esnobar o vento.
Driblar ruas de ratazanas famintas e peitar um urso diabólico
chamado de sogro.
Ser adolescente é rodar o mundo inteiro em um só dia e
ainda
completar a noite com gargalhadas e canalhices. Vaias e piadas infames.
Cutucadas
e palavrões.
Adolescente é Viver de esquemas, de olhares,
de medos e de anarquias.
De foras e de entradas. Das presepadas no trânsito em meio à
loucura
e ao caos. É pisar na areia da praia e falar "eu que sou o dono da porra toda!"
De dizer “Foi eu não, mãe!” .
Seja por amor
ou por ironia.
Seja pelo rancor ou pelo perdão.
Adolescente, enfim, é ter capacidade pra pegar 4 chips, mas não usar nenhum.
É ter bluetooth mas viver com ele desligado. É conectar-se
somente com o que nos importa e go5t4r de 3scr3v3r 3rr4do só pra implicar com o
mundo e com outros adolescentes.
É Bodejar. Arrotar. Gritar. Olhar de
rabo de olho e viver um pouco como
Bart Simpson, Wolverine, Predador, Mortal
Kombat. Kurtis Mantronix,
Bruce Dickinson, Vin Diesel, God of War, Vírgulino
Lampião, Emiliano Zapata,
Anderson Silva, Tiririca, João Gordo, Cloverfield.
Super 8. Optimus Prime, Luke Skywalker e Kin Kong.
Toda Hora.
24 horas por minuto.
Estudar?
Hummmm Complica. Afinal de contas,
nas questões das provas ninguém
pergunta sobre as Panicats. Nem sobre X-Games
ou Copa dos Campeões
da Europa. Nem Slipknot ou Beastie Boys. Nem Playstation 3
ou CQC.
E muito menos que vídeo é o mais compartilhado do Facebook.
Adrenalina de sobra, bateria entupida
de abuso.
Embora eu prefira garantir cadeira cativa
nos shoppings da vida.
Livre, leve e solto.
Também pode ser nos desertos, pântanos,
selvas, neves e abismos.
Buracos infinitos e galáxias colossais. Estátuas
gigantes.
Templos irritantes. Paraísos perdidos e quartos bagunçados.
Destruídos. Consumidos. Banidos da ordem e sem um pingo de lei.
Adolescente é excluir pais até o
momento em que o bolso aperta.
Já que basta apenas ter Hambúrgueres,
tênis maneiro, relógio,
moda, cinema e chiclete pra cuspir do alto da escada
rolante
que tudo está maravilhoso.
Meio equilíbrio entre o “já ser
grande” e “você não tem como trabalhar ainda”.
Linha entre o “Ainda é arriscado” e o
“Você devia ter vergonha disso”.
Se adolescente também é desprezar Irmãos
e irmãs,
primos e tias, madrinhas, vizinhos e professores. Isto é.
Pelo menos até o Natal chegar com
toda a sua magia envolvida
numa farofa de passas e um assado monstruoso.
Doces.
Luzes. Gorduras e torresmos.
Afinal. Quem precisa de tanto conselho quando
temos a certeza
de que já sabemos de tudo?
Mas resumindo realmente mesmo. O que NÃO sabemos ainda... Rá!
Não é, Luiz Henrique?
Nota do autor: Essa crônica foi feita em 2014
quando Luiz Henrique, o filho do Guabiras, completou 15 anos.