quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Rir (ainda) é o melhor remédio!

Não! Eu não tenho plano de saúdeNão que seja por conta 
do meu desleixo. Nem porque sai caro garantir o custo de vida.
NEM porque eu sou tal e qual o Wolverine. Cabra imune a qualquer 
desgraça por conta de seu fator de cura mutante. Não! 
A resposta simples e pura é que encarar um bom e velho posto comunitário
continua até hoje na lista das maiores e melhores coisas nesse mundo 
que me causam desopilação, nostalgia e satisfação com o ego. 

Sim, prefiro mil vezes o chafurdo de um posto de saúde do que o zelo e 
a organização de qualquer rede de qualquer plano de saúde. Hospitais
particulares são muito chatos. Fico incomodado com aquele silêncio todo
e fico mais incomodado ainda com cada atendente que aparece na minha 
frente totalmente fria e robótica.

Interiorano até a alma, eu confesso que nas muitas vezes em que me lasquei, 
a ponto de ter que ir costurar a cabeça no Hospital Frotinha do Centro, eu fui 
alegre e satisfeito. Adorava observar o movimento daquele “antro do terror”, 
muito antes do Juraci Magalhães esticar o prédio, com velhinhas reclamando, 
enfermeiras maliciosas e crianças gasguitas. Tudo ao ritmo de uma catinga 
infernal que misturava vômito, sangue, cascas de feridas e éter.

Anos 1980. De lá pra cá, aprendi a lidar com tal situação quase que
ironicamente, sempre que pude testemunhar resmungos e aflições, histeria 
e cenas pra lá de absurdas. É por isso que atualmente encarar um posto 
de saúde, para mim, é sinal de descontração tremenda e não 
de estresse neurótico.

Segunda-feira passada estive no de costume, que fica no bairro Jardim
das Oliveiras. Por conta de toda a tonelada de tutano e catupiry que já 
consumi na vida, fui para medir a pressão e ser receitado com algum 
medicamento bárbaro. E realmente não deu outra. Jamais você veria em 
um hospital particular duas velhinhas encantadoras conversando sobre 
as mazelas do mundo de uma maneira totalmente injuriada, ao mesmo
tempo cômica, tranquila e muito sossegada. Sábios frutos da conservadora
compaixão humana:

— No meu tempo mulher não arrebitava a saia no meio dos quartos 
pra mostrar a banda da bunda pros homens. Hoje é esse fogo desgraçado. 
Esse tal de “Ah, se te pego, Ah, se te pego”. Tenho é nojooooo...
Cuspida no chão que mais parecia uma bala do revólver do Charles Bronson.
— Essa esculhambação na televisão toda hora do dia... 
— Nããããmmm... É o fim dos tempos mesmo. 

Depois cada uma voltou a fazer o que estava fazendo. 
Ou seja, tricô e palavras cruzadas. Tinha mais. 
Tinha a tradicional senhora que sempre sai de casa com a panela no fogo
e acha que quando voltar vai encontrar o quarteirão em chamas. 
Tinha a tradicional dondoca que acha que pode furar a fila com 
a desculpa mais fajuta da história da medicina:
— Não posso chegar tarde ao trabalho!

Tinha a buchudinha que ainda não havia escolhido o nome do bebê, 
mas fazia questão de dizer que ia ter dois “Y” e tinha (lógico!) aquela
tradicional criança que pega nada menos do que quatro chips e 
um pendrive de 200 gigas. Ela Rola no chão, ela tira a blusa, ela assopra,
bate a cabeça na parede e grita pelos corredores que nem um dragão
de desenho animado. 
Ainda mais se for ninguém menos do que o filho da Priscila. 
Uma antiga parceira-loirinha-fiota-marrenta-piriguete dos áureos tempos 
do Pagode Mais ou Menos.
— Havia Guabiras! "Mim" ajuda a controlar esse menino, pelo amor de Deus.
—Bora, menino! Tem sossego, senão eu vou chamar o médico pra taca
um "sossega leão" no teu rabo!
Resposta:
— Iuuuuuuuuuuuu... nem médico aqui tem! O velhinho ali nesse instante
disse que o médico é um ‘senvergonha’ porque nem tinha chegado ainda.

KKK. Verdade. Não é só porque posto de saúde tem o mais
perfeito histórico de serviço sucateado que o povo humilde será besta.
Necas. É ai que muita gente se engana. Na maioria das vezes
confesso que é chato presenciar absurdos, mas o melhor ainda 
é presenciar a força de vontade que esse mesmo povo tem para viver. 

Esse povo guerreiro por natureza, que acorda antes do galo, que enfrenta 
milhares de problemas e mesmo assim vive alegre e satisfeito pelas poucas
migalhas miseráveis que o governo oferece.
Na alegria e na dor, na verdade mesmo, o meu apego pelos postos de saúde
depende mesmo é desse povo.

Nota do autor: Essa crônica é de 2012. Época em que os papeis ainda
não haviam se invertido. Ou seja, hospitais particulares atualmente estão
tão bagunçados, lotados e apavorantes quanto qualquer posto de saúde.

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